quarta-feira, 2 de setembro de 2015

A literatura nas escolas: Mano e os Clássicos


A arte moderna tem sido chamada de ‘intensa’. Não é fácil definir o que vem a ser ‘intenso’, mas, grosso modo, significa uma coisa errada atrás da outra.
G.K. Chesterton

Uma das principais expectativas que os pais costumam ter das escolas é a apresentação da literatura a seus filhos. Esperamos que os professores ensinem a nossos filhos a prática da leitura. Bons livros estimulam a capacidade imaginativa; ensinam o uso correto da língua portuguesa; e apresentam valores que muitas vezes acompanham o leitor por toda a vida. Ao ler os romances de J.R.R. Tolkien, por exemplo, um adolescente cultiva em si valores como honestidade, humildade, lealdade, coragem e amor ao ponto de dar sua própria vida por outras pessoas. Não há como não despertar a sagacidade científica em um adolescente que leia qualquer uma das obras de Júlio Verne. Para não dizer que não cito brasileiros, não poderia deixar lembrar da riqueza linguística e de tantos ensinamentos sobre as mais diversas áreas do conhecimento que se encontram nas aventuras do Sítio do Pica-Pau Amarelo. Como é delicioso aprender com Monteiro Lobato!
É essa a literatura que esperamos que as escolas apresentem a nossos filhos. Portanto, vocês já devem imaginar quão desgostosa foi nossa experiência ao saber quais livros a escola do Victor Hugo indicou como leitura obrigatória durante este ano. Peço perdão se este post parece exageradamente agressivo, mas não encontro outra maneira de denunciar a tentativa de destruir a mente e o espírito de nossos filhos. 
Além de resumos muito mal feitos de clássicos, como uma versão quase blasfema de Romeo e Julieta, a professora de português obrigou os alunos a ler um livro chamado “Mano descobre a liberdade”, de Heloísa Prieto e Gilberto Dimenstein, pertencente a uma série que se tornou best-seller no mercado editorial de livros didáticos. Ao vê-lo pela primeira vez, já nos assustamos por parecer um livro infantil: poucas páginas; letras enormes; e, é claro, muitas e enormes ilustrações. Li em menos de meia hora o livro sobre o qual os alunos do 7º ano deveriam se debruçar durante meses. Em um passado não muito distante, obras de ficção como Viagem ao Centro da Terra, Robinson Crusoé, O Hobbit ou As Crônicas de Nárnia, eram consideradas literatura infanto-juvenil. Hoje, adolescentes de 12 ou 13 anos, estudantes das ditas melhores escolas, são incapazes de ler poucas páginas seguidas, já que seus cérebros estão viciados na informação visual frenética dos celulares, tablets e televisão. Concentrar-se em uma página branca e cheia de pequenas letras pretas tornou-se para eles uma tortura. Ter que imaginar uma história, criar personagens, um cenário e ações na própria mente, é uma atividade demasiadamente difícil para quem está acostumado a receber passivamente todas as informações prontas de uma tela colorida e viva.
No entanto, o que mais nos assustou no “Mano descobre a liberdade”, foi o seu conteúdo e o uso da língua portuguesa. Haveremos de convir que o objetivo de um professor ao adotar um livro deveria ser o aprimoramento do conhecimento da língua, da capacidade imaginativa e criativa ou até mesmo, como expus no primeiro parágrafo, a transmissão de valores universais ou de um conteúdo específico para seus alunos. Nos parágrafos seguintes, analisarei o livro citado segundo cada um desses aspectos que acabo de mencionar:

1. Língua Portuguesa:

O livro foi todo escrito em linguagem coloquial e jovial. Há diversos erros gramaticais, como o uso incorreto de vírgulas ou erros propositais devido à intenção dos autores de reproduzir o palavreado atual dos adolescentes. Acredito que um professor de língua portuguesa deva se esforçar para que seus alunos aprendam a gramática e o uso formal da língua de forma correta. Ele tem a função de se contrapor ao excesso de coloquialismo que leva os adolescentes a utilizar a língua de forma errada. A julgar pela adoção do “Mano descobre a liberdade”, a professora de língua portuguesa da escola do Victor Hugo não deve concordar comigo. Talvez ela ache que adotar um livro escrito em linguagem coloquial, simples, jovial e errada faça com que os alunos tenham mais interesse pela leitura. Mas, sejamos honestos, qual o objetivo em fazer com que os alunos tenham interesse pela leitura de livros escritos do mesmo modo que esses adolescentes conversam entre si? Ninguém precisa de livros para aprender a linguagem das ruas. Tendo como premissa que os professores que adotam esse livro têm alguma boa intenção, resta-nos investigar o que a obra possui de tão interessante que compense o mau uso da língua portuguesa. Seria o enredo, que trabalha de forma positiva sobre o imaginário do leitor? Seria o conjunto de valores apresentados? Ou então algum conteúdo específico que seria essencial para o conhecimento dos adolescentes?

2. Capacidade Imaginativa:

O enredo da obra é bem simples: um adolescente vive com sua mãe (uma hippie), seu irmão (um adolescente que passa os dias com sua namorada no quarto), seu avô (um grafiteiro) e a empregada. Por meio de sua professora de artes, Anísia, descobre que seu avô já foi preso pela ditadura e que o mesmo senhor faz parte de uma gangue de grafiteiros. Não há nada no enredo ou na descrição dos personagens que leve os alunos a esforçar-se para criar a história em suas mentes. Para facilitar ainda mais o trabalho do leitor, as páginas estão repletas de ilustrações das principais cenas. O pobre do leitor adolescente não pode nem mesmo imaginar uma personagem. Se o livro também não busca incitar a capacidade imaginativa do aluno, só nos resta afirmar que o propósito de sua adoção na escola foi a transmissão de valores ou de algum conhecimento específico.

3. Valores:

Toda obra de ficção carrega algum conjunto de valores, ainda que não intencionalmente. No caso do “Mano”, há uma explícita defesa de certos valores. Como sugere o título, o principal valor defendido pelos autores é a liberdade. Seria uma intenção louvável, caso eles não usassem um conceito muito estranho de liberdade. O livro fala sempre da luta pela liberdade de expressão nos tempos da ditadura militar no Brasil. Afirma que as pessoas presas pelos militares eram heróis que lutavam pelo fim da censura. Este não é o espaço para discutir os detalhes do período militar, mas os autores se esquecem de informar que a maioria dos presos naquele período eram revolucionários que assaltavam bancos, explodiam bombas, sequestravam e matavam. Não disse que os mesmos pertenciam a grupos armados financiados pelas ditaduras mais sanguinárias da história da humanidade. O que agrava ainda mais a abordagem do livro é que, além de tratar criminosos defensores das piores ditaduras como heróis da liberdade, tais criminosos são hoje a cúpula do Partido dos Trabalhadores. O livro ensina nossos filhos que José Dirceu, Lula, Dilma Rousseff e José Genoíno, entre outros companheiros que formam a quadrilha responsável pelo maior roubo da história do Brasil, são grandes heróis da liberdade.
Infelizmente, a violência contra o conceito de liberdade não para por aí. Os autores defendem, por meio da professora Anísia, uma heroína da história, que “a verdadeira liberdade seria não a de escolher entre o preto e o branco, mas a de não precisar fazer semelhante escolha” (p. 37).  O que querem afirmar com essa sentença? Que a verdadeira liberdade é a de não precisar fazer escolhas difíceis? Mas isso é o inverso da liberdade, é um determinismo que escravizaria o ser humano. Se agíssemos sem fazer escolhas, fazendo tudo o que o corpo deseja, não passaríamos de animais irracionais. Mas alguns podem argumentar que essa não é a intenção dos autores: talvez eles estivessem defendendo o direito das pessoas de escolher o que bem entenderem, de não se limitar a escolhas entre opções preconcebidas. Nesse caso, o problema ficaria maior ainda, pois a realidade nos coloca diariamente diante de tais escolhas, concordando ou não com elas. Na maioria das vezes, nós não temos outras escolhas além do preto e do branco, o que não nos tira a liberdade em escolhê-los. Apresentar-nos todas as cores do arco-íris não aumenta nossa liberdade de escolha, mas apenas o número de alternativas. A realidade é que esses adolescentes passarão por situações em que terão poucas e dolorosas escolhas a fazer. Serão esses os momentos em que provarão o máximo da liberdade.
Mano descobrindo a liberdade na mentira e na feiura. 

Um exemplo simples e que sempre se repete entre os jovens católicos é a defesa da castidade. O cristão sabe que deve ser casto e que, fora do matrimônio, a única forma de sê-lo é abster-se das relações sexuais e das ocasiões que podem provocar tais relações. Portanto, um católico só pode namorar se estiver certo que conseguirá combater pela santidade. O problema é que os desejos são, muitas vezes, opostos à virtude: os jovens se apaixonam. Imaginemos uma moça católica que se apaixona por um rapaz pagão, ou vice-versa. Ela sabe que namorar tal rapaz a levará fatalmente à fornicação, pois somente uma vida de muita oração do casal pode combater todo o bombardeamento de sexualidade que mundo nos apresenta. Essa garota acorda pensando nele, deseja estar com ele o tempo todo, seu coração bate mais forte só de lembrar do seu sorriso. No entanto, ela renúncia ao que mais deseja para viver uma juventude santa. Essa moça nunca foi tão livre, pois, por amor a Jesus Cristo, ela agiu de modo contrário aos seus sentimentos mais ardentes. Ela tinha duas opções: a santidade e o pecado, o preto e o branco. Mas isso é o oposto do que a professora Anísia ensina. A heroína diz que a liberdade é não precisar fazer a escolha. Ela defenderia que a jovem apaixonada somente seria livre caso se entregasse ao namorado que tanto deseja, se fosse escrava de seus sentimentos. A liberdade, para Anísia, é ser escravo e covarde. A liberdade, para o cristão, é ter a coragem de colocar a razão e o amor acima dos instinto e desejos. Chegamos, portanto, à outra virtude que nossa heroína ensina: a coragem.
Após picharem o muro da escola, Anísia, adulterando Vinícius de Morais, escreve no quadro: “Os cínicos que me perdoem, mas coragem é fundamental”. Notem no absurdo que é a adoção desse livro por uma escola. Ele ensina que é um ato corajoso a depredação do colégio. Ora, que eu saiba, a coragem é a virtude de fazer o bem, ainda que eu sofra pela minha decisão. Portanto, alguém que corre riscos para fazer o mal não é um corajoso, mas, na melhor das hipóteses, um sujeito que busca emoções para tentar, em vão, preencher uma vida sem sentido. 
Para completar o absurdo da inversão de valores, partimos para outro ensinamento da professora Anísia: “A verdade ganha mais com os erros de alguém que pensa por si, do que com as pessoas que repetem as ideias alheias porque não suportam a atividade do próprio pensamento”. Em outras palavras, ela afirma que uma mentira original vale mais que uma verdade repetida. Os autores querem convencer nossos filhos que aquilo que ensinamos a eles como verdade deve ser substituído por uma ideia que venha de suas próprias cabeças. Estão incutindo na mente de nossos filhos que eles não devem respeitar nossa autoridade de pais, mas, ao contrário, devem “pensar por si”. Todo ser humano pensa por meio de informações que já estão em suas memórias. Portanto, a verdade de uma ideia repousa na veracidade das informações com as quais raciocinamos e na correção da construção lógica de nossos pensamentos. É, portanto, a veracidade das premissas e a retidão dos passos lógicos que nos levam às conclusões verdadeiras. As crianças e os adolescentes, na maioria das vezes por falta de vivência e de estudo, não possuem premissas suficientes para raciocinar de modo a chegar a ideias novas e verdadeiras. Somos nós os responsáveis por dotar nossos filhos da matéria prima necessária para que eles possam usar sua razão de modo profícuo. Portanto, nós não podemos desprezar o conhecimento dos mais velhos, da tradição. Mas os livros que nossos filhos leem na escola ensinam o contrário, dizem que ouvir os pais, a Igreja, os mais velhos ou a quem quer que seja, é coisa de quem “não suporta a atividade do próprio pensamento”.
Apesar de não tratar diretamente de filosofia, o livro cita de forma muito elogiosa o existencialista Jean-Paul Sartre, o filósofo predileto do avô de Mano, um dos heróis da história. Sartre era um ateu militante e um dos maiores defensores do comunismo no mundo ocidental. Dizia-se pacifista e defendia genocídios. Um dos pilares de sua filosofia era a ideia de que a existência humana precede sua essência. Portanto, a essência do homem seria feita por ele mesmo, por seus atos. Esse raciocínio, apesar de obviamente absurdo, foi essencial para o movimento feminista e para o desenvolvimento da ideologia de gênero, que defende que o sexo biológico não determina a essência da pessoa como homem ou mulher, mas que o indivíduo, sob influência da sociedade, é que se faz homem, mulher ou o que ele bem entender. Não é uma mera coincidência que Sartre fosse amigado com Simone de Beauvoir, a grande precursora do feminismo. Os dois tinham um relacionamento aberto, viviam em poligamia, com vários casos paralelos. Talvez por isso o autor cita a separação dos pais de Mano como algo natural e até mesmo positivo, pois eles eram muito diferentes. A pergunta que nós pais temos que nos fazer é: são os valores de Jean-Paul Sartre que queremos passar aos nossos filhos? Pois são esses valores que as escolas, com raras exceções, tentam passar a eles.
Encontro de humanistas: Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir e Che Guevara, debatendo os meios pacíficos de assassinar crianças nos ventres de suas mães e fuzilar os adversários políticos. 


4. Apresentando as belas-artes aos adolescentes:

A história de “Mano descobre a liberdade” tem como pano de fundo as artes plásticas. Talvez essa fosse a salvação da obra. Ao menos nossos filhos aprenderiam um pouco sobre as belas-artes... ledo engano. Os misteriosos grafiteiros pintavam os muros com desenhos idênticos a Miró e Picasso. Se a arte desses dois artistas é tão especial, os autores do livro não deveriam afirmar que meros grafiteiros são capazes de reproduzir fielmente suas obras. Eles devem decidir se esses artistas espanhóis são gênios extraordinários ou meros pintores facilmente copiáveis.  As artes plásticas são um tema polêmico, pois poucas pessoas têm coragem de dizer ao rei que ele está nu. Por algum motivo, no início do século XX, a beleza parou de pautar a arte. Antes, dizíamos que um afresco era bonito, hoje dizemos que uns rabiscos feios e até mesmo causadores de repugnância são inspiradores, provocativos ou qualquer outro adjetivo que não seja a beleza.
Criatividade de Miró, um dos mais aclamados artistas do século XX

Platão, Aristóteles e a Academia de Atenas, afresco sem criatividade de um tal de Raffaello.

Além de Miró e Picasso, o Mano também é apresentado a outro criador de horrores aclamado como grande artista: o grafiteiro e novo milionário nova-iorquino Jean-Michel Basquiat. Sua obra é tão asquerosa que duvido que alguém teria coragem de pendurar um Basquiat em sua sala. Agora eu me pergunto: qual o problema desses autores em apresentar Caravaggio, Raffaello, Michelangelo, Leonardo da Vinci, Giotto e tantos outros aos seus leitores? Será que temem que após conhecerem algo verdadeiramente belo, os leitores passem a perceber que suas obras são indignas de frequentar a lata de lixo de suas casas?
 
Caravaggio, artista retrógrado.

Basquiat, gênio da arte contemporânea.

5.O que fazer?


Todas essas linhas foram escritas para apresentar um único exemplo pontual do veneno que as escolas têm sido para nossos filhos. Poderíamos citar vários outros. Desde que passamos a acompanhar mais de perto os estudos do Victor Hugo, não passamos uma semana sem ouvir algum absurdo que algum professor falou. Até discursos contra o matrimônio e a família nosso filho teve que ouvir de seus professores. Diante de tal calamidade, o que nós temos feito? Em próximos posts vamos mostrar um pouco de nossa experiência com a tentativa de salvar o Victor Hugo das más influências intelectuais, humanas e espirituais que ele recebe na escola. A boa notícia é que nem tudo são trevas. Há caminhos alternativos que vêm sendo trilhados por pessoas de muita coragem no Brasil.

5 comentários:

  1. Olá família!
    Estou apaixonada pelo blog.Sou professora desde de 2008,estou passando por um conflito profissional sério.O que me resta,abandonar a profissão ou dançar conforme a música?
    Venho refletindo algum tempo sobre a educação,confesso que não vejo saída.Já lecionei em escolas particulares e municipais.Não há diferença, todas são obrigadas a seguir orientações do MEC,seguir linhas de aprendizagens e estudar teóricos revolucionários.Estou a procura de cursos que não sejam relacionados ao CONSTRUTIVISMO,mas não existe.Voltando a pergunta do início da mensagem.Seria mais fácil abandonar a profissão,tendo em vista o baixo salário e a desvalorização,se não fosse a minha paixão por lecionar,por fazer diferente e faz a diferença.Quero aprender muito com vocês.Forte abraço.

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    1. Oi Lu, acreditamos que nossos princípios e valores são o que verdadeiramente importa! Se ao se submeter às regras do MEC você acaba indo contra ao que acredita, achamos que não vale a pena... Mas ´w claro que essa escolha é pessoal, e sempre existe aqueles que fazem a diferença! Coloque suas angústias nas mãos do Nosso Senhor, Ele irá te mostrar o melhor caminho ;)

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  2. Marcelo e Juliana,
    Bom dia!

    Conheci o blog de vocês esta semana, e é com imensa alegria que agradeço a Deus por colocar pessoas em nossas vidas que de forma tão especial nos transmitem a Sua graça! Quero apresentar o blog à minha esposa o quanto antes, para que possamos ler tudo desde o início (comecei a ler pelos textos de agosto e iniciei hoje os de setembro...rsrs).
    Na intenção de lhes escrever mais futuramente, registro por ora apenas estas poucas palavras, em agradecimento por compartilharem suas experiências, estudos e reflexões, e para lhes pedir que continuem firmes na caminhada, guiados por Nossa Mãe Maria Santíssima, no bom combate e firme propósito de ser sal da terra e luz no mundo!
    Fiquem com Deus e que Ele continue nos abençoando!

    Alexandre.

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