A família é a primeira e
fundamental escola de socialização: enquanto comunidade de amor, ela encontra
no dom de si a lei que a guia e a faz crescer. O dom de si, que inspira o amor
mútuo dos cônjuges, deve pôr-se como modelo e norma daquele que deve ser atuado
nas relações entre irmãos e irmãs e entre as diversas gerações que convivem na
família. E a comunhão e a participação quotidianamente vividas na casa, nos
momentos de alegria e de dificuldade, representam a mais concreta e eficaz
pedagogia para a inserção ativa, responsável e fecunda dos filhos no mais amplo
horizonte da sociedade.
São João
Paulo II, Familiaris Consortio, 37.
Todas as vezes
que falamos sobre Homeschooling com
nossos familiares e colegas, surge a seguinte indagação: “Concordo que educar
os filhos em casa pode ser mais eficiente e mais compatível com os
valores morais cristãos, mas e a socialização? As crianças precisam de amigos!
Elas não ficarão isoladas em casa, sem contato com pessoas?”
Para responder a
essa pergunta, devemos antes precisar o que significa sociabilidade e
socialização para não correr o risco de falar sobre uma coisa e querer dizer
outra.
1. Definição
a. Sociabilidade
Diferente da
socialização, a sociabilidade é uma habilidade
ou um conjunto de habilidades de uma pessoa em se relacionar com outros. Por exemplo, se uma pessoa é extrovertida e
simpática, ela tende a ser mais sociável
do que uma pessoa introvertida e mal humorada. Portanto, a sociabilidade é uma
ferramenta para a socialização.
b. Socialização
Segundo o
Dicionário Caldas Aulete, a socialização é o “ajustamento de uma pessoa,
especialmente uma criança, ao grupo social em que se deve inserir (processo de
socialização)”. Portanto, socializar é adequar-se à vida em grupo, o que não é
em si algo bom ou ruim, a depender do grupo no qual a pessoa se socializa.
Quando uma criança vai à escola e adequa-se às regras de convivência de seus
colegas, podemos afirmar que ela está socializada naquele meio. Caso a criança
fique isolada dos colegas, dizemos que ela não se socializa, muitas vezes por
falta de sociabilidade, como acontece com crianças muito tímidas. Apesar
de ser um tanto óbvia, essa definição nos faz formular outra questão de
resposta não tão simples: em que meio eu quero que meu filho seja socializado?
Como educá-lo de modo a fornecer a ele habilidades sociais para que possa se adequar
a um meio social saudável, que o leve a ser uma pessoa melhor?
2. Socialização e sociabilidade no lar e na
escola
No fim das
contas, o objetivo de todo pai cristão é educar seu filho para amar. Se uma
pessoa ama as pessoas com quem ela convive, ela certamente não sofre de nenhum
problema de socialização. Portanto, devemos ensinar nossos filhos a servir o
próximo, a sacrificar-se por outra pessoa, a esforçar-se para fazer o bem, a
respeitar as pessoas diferentes etc. Esse deve ser o núcleo da preocupação dos
pais em relação à socialização de seus filhos. Abaixo dessa dimensão
caritativa, podemos citar também outros elementos, desta vez relacionados aos
sentimentos da criança, como a diversão em grupo, as brincadeiras, esportes
etc. Queremos que nossos filhos sejam santos e que se divirtam, que brinquem,
que sejam crianças. Refletiremos agora sobre como o ambiente familiar e escolar
podem influenciar a socialização das crianças.
a. Aprendendo a amar
Não há forma
melhor de socialização do que amando e não há lugar melhor para aprender a amar
do que em casa. Lembremos que o lar deve ser uma Igreja doméstica. Devemos amar
a Deus sobre todas as coisas, estar sempre em oração e frequentar os
sacramentos. Se cultivamos o amor divino, ele será refletido no matrimônio e
chegará aos filhos. As crianças aprendem a amar ao serem amadas pelos pais e ao
vivenciar o amor entre eles. Se os pais se doam, se perdoam, se sacrificam um
pelo outro, as crianças aprenderão a agir da mesma forma. Quando um filho
vivencia o fato dos pais deixarem de fazer o que lhes dá prazer para
ensiná-los, eles aprendem que estão sendo amados. Além da influência do
exemplo, pais que estão mais próximos dos filhos podem ensiná-los e
incentivá-los a práticas de amor. Por exemplo, uma mãe que educa os filhos em
casa sabe muito bem se um irmão está sendo egoísta com o outro irmão, podendo
então corrigir essa característica. Se a criança passa o dia na escola e com a
empregada, os pais raramente saberão se os filhos estão realmente cultivando os
valores sociais cristãos. O menino pode ser um egoísta, agressivo, mentiroso e
tantas outras coisas e os pais só descobrirão isso quando tais vícios já
estiverem enraizados em seus corações. Pelo mesmo motivo, praticamente todas as
habilidades sociais são melhor praticadas em um lar onde há educação domiciliar
do que na escola. Como pais que convivem 2 ou 3 horas por dia com os filhos
saberão se eles são, por exemplo, excessivamente introvertidos ou se estão por
algum motivo se excluindo do convívio com os amigos?
b. Autoconfiança versus Aceitação dos pares
Uma das
habilidades sociais mais importantes que uma pessoa deve possuir é a
autoconfiança. Um sujeito inseguro certamente tem problemas de convívio, pois
tem medo de expressar sua opinião ou agir perante outras pessoas. No lar,
quando uma criança faz algo de bom, os pais elogiam e as incentivam a repetir e
a avançar em tais ações. Quando a criança faz algo de errado ou fala algo que
não deve, os pais caridosamente as ensinam como é a forma correta. Elas
aprendem que o erro faz parte do aprendizado e são ensinadas a ser humildes, a
reconhecer que precisam sempre aprender mais. Isso gera autoconfiança nos
filhos de modo que, quando vivenciarem uma discussão ou tiverem que fazer algo
em público, não temerão os erros e nem as críticas.
Na escola
costuma acontecer o contrário, pois as crianças sentem a necessidade de
aceitação do grupo. Elas precisam fazer o que for preciso para serem aceitas e
admiradas perante seus pares. Começam assim a falar como todos falam, agir como
todos agem e quem faz diferente é zombado e excluído do grupo. Por esse motivo,
tantas vezes vemos adolescentes agindo de modo contrário às suas convicções
somente para não destoar dos colegas. Não bastasse o mal que isso faz à
autoconfiança da criança, tal comportamento pode levar nossos filhos a criar
hábitos e convicções contrários à fé. Por
exemplo, as meninas sentirão necessidade de vestir as roupas que as outras
meninas usam, por mais promíscuas que sejam. Os meninos que defendem a
castidade serão perseguidos até o último dia da escola. Poderíamos citar uma
infinidade de exemplos! É lógico que adolescentes que mantém suas convicções e
seus valores mesmo depois de passar por vários anos de provação na escola serão
pessoas fortes e firmes na fé, mas eles são minoria. O próprio vício da
pornografia que aflige tantos jovens dentro da Igreja é uma prova disso.
Fica então a
pergunta: vale a pena a socialização dessa forma? Queremos que nossos filhos se
adequem a grupos de pessoas que agem completamente em desacordo do que
ensinamos a eles? No fim das contas, o grande desafio dos pais
cristãos é evitar que o filho seja socializado na escola!
Que socialização queremos para nossos filhos? |
c. Convivência com os diferentes
Muitas pessoas
acreditam que a escola é o melhor ambiente para as crianças aprenderem a conviver
com as diferenças. Mas de que diferença nós estamos falando? Quando as crianças
estão na escola, elas costumam formar grupos de amigos de sua idade e com
gostos e comportamentos semelhantes. É normal a exclusão e discriminação de
crianças que não se adaptam a esses grupos. Não é à toa que há uma crescente
preocupação com bullying no meio
educacional. De fato, ainda que frequentem o mesmo ambiente, os estudantes vivem
em grupos de semelhantes, não de diferentes.
Em uma família
que pratica o Homeschooling, os pais
têm mais tempo para ensinar aos filhos a amar as pessoas diferentes. Se
ensinamos nossos filhos a amar o próximo, certamente eles crescerão sem
preconceitos. Os pais podem levar os filhos a asilos, casas de acolhimento de
mendigos e tantos outros lugares para as crianças aprenderem que há pessoas que
sofrem muito. Isso os ajudará a criar uma postura de gratidão perante Deus e
uma maior disposição a colocar-se a serviço dos outros. Eles também convivem com
irmãos de idades diferentes. A convivência com os irmãos em tempo integral faz
com que se estabeleça um laço de amizade mais forte entre eles, mesmo havendo
vários anos de diferença entre uns e outros. Por exemplo, um garoto que ensina
algo a seu irmão mais novo está amando. O que une os irmãos aqui não é mais um
jogo de gostos e interesses, como entre colegas de escola, mas é um laço de
amor concretamente vivido entre eles.
A maior
convivência com os pais também é uma grande ajuda às crianças para que elas
aprendam a lidar com as diferenças. Elas testemunham diariamente o que é o
mundo adulto, quais são as preocupações e até mesmo as diversões de um adulto.
Isso evita que os filhos vivam em um mundo artificial onde a maioria das
pessoas tem a mesma idade e os mesmos interesses.
d. Divertindo-se e fazendo amizades
É comum que as
pessoas imaginem que crianças que fazem Homeschooling
não possuem amigos ou que vivam isoladas e entediadas em casa. Essa tese não se
sustenta por vários motivos: as crianças que são educadas no lar tendem a ser mais
amigas dos irmãos; elas possuem vários amigos na Igreja; fazem amizade com
colegas do esporte e com os vizinhos. A
diferença é que na escola os pais não têm controle nenhum sobre as amizades dos
filhos. Eles passam o dia convivendo com pessoas que não sabemos quem são. Por
isso não é de se espantar quando, de repente, os pais descobrem que os filhos
tornaram-se pessoas muito diferentes do que desejavam. Por mais que nós
ensinemos o que é certo e errado, os jovens precisam sentir-se inseridos e
adaptados em seus grupos de amigos. Não estamos defendendo que nossos filhos
devam ser isolados e protegidos como taças de cristais, até porque nós cristãos
somos chamados a ser luz para este mundo. O que estamos dizendo é que não
devemos ser ingênuos ao ponto de achar que nossos filhos são santos mártires
que estão prontos a ser enviados a Sodoma e Gomorra e que sairão puros de lá.
Nós afirmamos isso com base no que estamos vivenciando com o Victor Hugo. É uma
luta diária não permitir que ele se torne como um dos meninos de sua escola.
Desde vestimentas, jeito de falar e até comportamentos morais e gostos
artísticos, a criança é influenciada pelas amizades em todos os aspectos de sua
vida, por mais que os pais se esforcem. Os colegas de escola do Victor Hugo
ouvem funk quebradeira na hora do intervalo, compartilham pornografia no
celular e se embriagam em festinhas. Estamos falando de meninos de 12 anos de
idade de uma das escolas particulares mais bem conceituadas de Brasília! Se eu
coloco meu filho para passar 200 dias por ano junto a essas pessoas, como posso
desejar que ele não se torne um deles?
Nós desejamos
que nossos filhos tenham bons amigos e que se divirtam. Queremos que eles pratiquem
esportes, leiam livros, joguem jogos de tabuleiro, conversem sobre suas descobertas
etc. Para que tudo isso ocorra de forma saudável, não há ambiente
melhor que o lar onde se pratica educação domiciliar.
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