Na sua infinita Sabedoria e Amor,
Deus chamou cada um de nós a desempenhar uma determinada missão aqui na terra,
uma missão que contribuiu de forma misteriosa para o seu grandioso designo de
Redenção da humanidade. Ao mesmo tempo, chamou todos os seres humanos – cada um
de nós - à vida eterna, à felicidade sem fim com Ele, a uma alegria e paz que
ultrapassam infinitamente os nossos sonhos mais ambiciosos, à felicidade
arrebatadora de uns filhos que por fim estarão unidos, já para sempre, com o
seu Pai e nosso Pai. (James B. Stenson)
Quando uma família decide finalmente pelo Homeschooling, a primeira pergunta que
vem à mente, juntamente com um frio na barriga, costuma ser “E agora? Por onde
começo?”. Acreditamos que o primeiríssimo ponto, antes mesmo de se pensar em
métodos, currículos e materiais didáticos, é perguntarmo-nos qual o “tipo” de
educação almejamos proporcionar a nossos filhos. Por sua vez, para discernir o
tipo de educação ideal, temos que ter clareza do fim da educação de nossos
filhos. É necessário perguntar-nos: para qual fim estou educando meus filhos?
Essa parece ser uma indagação idiota, mas sua resposta é importantíssima não só
para escolher como educaremos nossos filhos, mas para mostrar a nós, pais, se
estamos vivendo de acordo com os grandes objetivos de nossa própria vida.
Se perguntarmos aos pais o motivo pelo qual seus
filhos vão à escola, creio que a maioria responderá que é para garantir um bom
futuro profissional. Alguns poucos responderão que querem que seus filhos sejam
inteligentes e cultos, e raríssimos aqueles que responderão que querem
que seus filhos tenham amor ao conhecimento, à verdade e que, por meio dos
estudos, aproximem-se de Deus. Em geral as pessoas pensam que a escola serve apenas para dar instrução técnica aos seus filhos, cabendo aos pais a educação na fé. Mas qual é o fim último de ser um bom
profissional? Ganhar dinheiro? Ter uma vida abastada e tranquila? Enquanto
cristãos, como respondemos a essa pergunta? A instrução escolar e suas
recompensas materiais não podem ser um fim em si mesmas.
Educamos nossos filhos para este mundo ou para vida eterna? |
Foram essas reflexões que
fizemos antes de montar uma grade curricular para nosso filho.
Chegamos à conclusão que tanto a educação moral quanto a instrução técnica
devem ter um único fim último: o Céu! Criamos nossos filhos para a santidade.
Portanto, ficaremos mais felizes e realizados vendo-o como um simples
trabalhador braçal, porém santo, do que como neurocirurgião ateu ou um empresário
milionário escravo do mundo. O Código de Direito Canônico é claro e objetivo ao
afirmar que os pais participam de modo especial na santificação dos homens
também por meio da educação dos filhos:
Também os demais fiéis, ao
participarem ativamente, a seu modo, nas celebrações litúrgicas, sobre tudo na
eucarística, têm uma parte que lhes é própria no múnus santificador; de modo
peculiar participam neste múnus os pais, vivendo em espírito cristão a vida
conjugal e cuidando da educação cristã dos filhos. (Cân. 835)
Mas há quem argumente que não devemos criar nossos
filhos para serem profissionalmente bem sucedidos e ganharem dinheiro, tampouco
para fazer deles crentes, mas para serem felizes. O problema nesse caso está na
definição de felicidade. Para boa parte dessas pessoas, ser feliz é fazer o que
gosta, satisfazer os desejos, ser livre para gastar seu tempo como quiser. Mas, para
os cristãos, a felicidade é o inverso de tudo isso: é amar, doar-se, reprimir
nossos desejos para fazer o bem e livremente restringir nossa própria
liberdade para o bem de outrem. Apesar dessa ser uma visão aparentemente
paradoxal, os dados empíricos evidenciam sua veracidade: os países com maiores
taxas de suicídios, divórcio e depressão são exatamente os que proporcionam
maior bem estar social, maior desenvolvimento econômico, melhor qualidade
educacional e maior liberdade individual. Peguemos como exemplo os países
nórdicos europeus. Lá a maioria não tem mais o peso de criar uma família, são
solteiros, livres para viverem suas próprias vidas. Lá eles são cultos e
poliglotas. Lá eles podem escolher qualquer profissão, pois todas lhes darão o
sustento necessário. Lá as pessoas se suicidam como em nenhum lugar do mundo. Portanto,
não é o dinheiro, nem a liberdade, nem o conhecimento que nos faz felizes.
Alguns descrentes já percebem isso e buscam a felicidade nas ações de caridade,
em trabalhos para ONGs etc. Mas, ainda assim, essa busca de felicidade no amor
ao próximo não faz sentido algum se não for um espelho do amor de Deus. Um
jovem que é fortalecido na fé e nos sacramentos, terá maiores condições de amar
o próximo e assim encontrar a felicidade do que alguém que o faz por simples
compaixão. Aliás, a própria compaixão ocorre em nossa consciência de modo muito
mais forte se somos guiados pelo Espírito Santo. Portanto, para nossos filhos
serem felizes, eles devem ter a felicidade como consequência de um fim maior,
não como um fim em si mesma.
Por conseguinte, o objetivo final da educação que damos a
nosso filho é levá-lo a Deus, fazê-lo santo. Para isso, temos que ensinar-lhe
as virtudes cristãs, introduzi-lo em uma vida de fé, motivá-lo a contemplar a
beleza e a conhecer Deus também por meio dos estudos. Uma pessoa com uma boa formação intelectual,
com um imaginário bem trabalhado, com o conhecimento profundo da língua, com
capacidade de raciocínio lógico bem desenvolvida e com retórica bem trabalhada
possui condições para chegar ao conhecimento da Verdade também por meio da
razão. Portanto, não podemos separar a formação intelectual da formação moral e
espiritual. Descuidar de uma delas será prejudicial às outras. Lembro-me aqui
que, em Confissões, Santo Agostinho
relata que sua inteligência deu um enorme salto após sua conversão, pois a
verdadeira sabedoria vem do Espírito Santo.
Tudo isso para dizer que a escolha da metodologia, material didático e montagem do currículo do nosso filho neste ano foi uma decisão
por uma instrução que o ajudasse a crescer na fé também por meio dos
estudos. Estamos ainda engatinhando, a cada dia descobrindo algo
novo e gradativamente entendendo mais como nosso filho aprende melhor, o que mais
detém sua atenção e o que mais o dispersa.
Com poucas palavras, James B. Stenson, em seu livro "Enquanto
ainda é Tempo... A formação moral e religiosa dos filhos", faz-nos um
alerta urgente sobre o qual todo pai cristão que se preocupa com a educação dos
filhos deve refletir seriamente e honestamente. A verdade contida nas palavras
de Stenson é o que nos anima a sacrificar nossos desejos e planos para
educar nosso filho. Aqui está o pavimento sobre o qual queremos construir a
formação intelectual, moral e espiritual de nosso garoto e dos demais filhos
que o Senhor nos confiar:
Deus chama cada um de nós a ser
santo. E chama também você, atual ou futuro pai ou mãe de família, a
desempenhar uma missão especial. Confiou a si e a seu amado cônjuge os filhos,
os frutos do amor que têm um pelo outro e do amor que Deus tem pela sua
família.
(...)
Desde toda a eternidade, o Senhor
quis que você o servisse levando os seus filhos a amá-lo e servi-lo com todo o coração, com toda a tua alma, com
toda a tua mente e com todas as forças (Mc 12, 30), de forma que tanto eles
como você recebam a vida eterna e o cem
por um de felicidade aqui na terra que Cristo prometeu a todos aqueles que
o amarem.
(...)
É por isso que Deus trouxe você a
este mundo e lhe enviou os seus filhos. A sua missão é assegurar-lhes a
felicidade terrena e eterna, e você não terá autêntica paz ou alegria enquanto
não abraçar esta missão como a sua maior responsabilidade, superando-se a si
mesmo no seu cumprimento. Mas se a abraçar, se realmente amar a Deus e os seus
filhos até sacrificar-se por eles, tal como Jesus Cristo fez e ensinou (At 1,
1), a sua felicidade nunca conhecerá fim.
(...)
Os nossos filhos existirão por toda a
eternidade – em um dos dois estados possíveis: o da felicidade eterna com Deus
no céu, ou o da tristeza e sofrimento eterno no inferno. Os nossos filhos
viverão e morrerão livremente na amizade de Deus, ou afastar-se-ão livremente
do seu amor durante esta vida, para depois sofrerem a segunda morte por toda a eternidade. Nós, como pais amorosos, não
deveríamos nunca perder de vista esta temível possibilidade. O inferno existe.
O inferno existe, e as suas forças malignas dirigem-se contra a alma dos nossos
filhos. O Salvador preveniu-nos repetidamente acerca desta realidade; só nos
Evangelhos, fê-lo mais uma dúzia de vezes. Preveniu-nos a cada uma de nós – e a
todos – acerca do terrível destino que aguarda aqueles que rejeitam o seu amor
e o seu perdão.
No entanto, há aqueles que afirmam que essas ideias de inferno,
de penas eternas, são conversas de fanáticos religiosos, que Deus é
misericordiosos e que basta um bom coração para ir ao céu. Mas quem nos alerta por
primeiro sobre o inferno é nosso senhor Jesus Cristo. Além disso, a Doutrina da
Igreja é clara quanto a esse grande perigo, conforme nos ensina o Catecismo da
Igreja Católica:
1034. Jesus fala muitas vezes da
«gehena», do «fogo que não se apaga», reservada aos que recusam, até ao fim da
vida, acreditar e converter-se, e na qual podem perder-se, ao mesmo tempo, a
alma e o corpo. Jesus anuncia, em termos muitos severos, que «enviará os seus
anjos que tirarão do seu Reino [...] todos os que praticaram a iniquidade, e
hão de lançá-los na fornalha ardente» (Mt 13, 41-42), e sobre eles
pronunciará a sentença: «afastai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno» (Mt 25, 41).
1035. A doutrina da Igreja afirma a existência do Inferno e a
sua eternidade. As almas dos que morrem em estado de pecado mortal descem
imediatamente, após a morte, aos infernos, onde sofrem as penas do Inferno, «o
fogo eterno». A principal pena do inferno consiste na separação eterna de Deus,
o único em Quem o homem pode ter a vida e a felicidade para que foi criado e a
que aspira.
Notem a seriedade de nossa missão! Nós, como pais, temos a
obrigação de conduzir nossos filhos à vida eterna na Glória de Deus. O melhor
de tudo é que o cumprimento desse nosso dever não somente nos preparará,
juntamente com nossos filhos, para o Céu, mas também nos dará a felicidade aqui
nesta vida.